Afinal o que é e no que se está a tornar o Hub Criativo do Beato? Como se parte de uma fábrica do exército para um hub de inovação? Porque está a Câmara Municipal de Lisboa a investir neste projeto e como está a Startup Lisboa a projetar o espaço e a preservar a sua memória?
HCB
The Future is here
O Hub Criativo do Beato tem um antes e muitos depois. As memórias preservam-se. O Futuro cria-se. O presente é o único futuro possível, porque é o único que podemos criar. O Futuro está aqui, todos os dias.
Estamos a construir um espaço de inovação aberta, no coração do bairro do Beato, no qual as zonas de trabalho, lazer e cultura se cruzam para criar uma nova dinâmica urbana, um espaço de vivência diária comum aos residentes do hub - empreendedores, freelancers, startups, scaleups e grandes empresas - e a toda a comunidade envolvente.
Missão e Visão
Estrategicamente localizado entre o centro histórico da cidade e a moderna zona do Parque das Nações, na primeira linha de rio, a Câmara Municipal de Lisboa visionou o espaço de 3 hectares das antigas fábricas da Manutenção Militar no Beato como uma oportunidade única para acelerar o desenvolvimento e potenciar a reabilitação urbana, económica e cultural desta área da cidade, que durante o século XX acolheu uma forte atividade industrial que ao longo das ultimas décadas saiu da cidade, deixando para trás uma zona social e economicamente desfavorecida.
Em 2016, a autarquia propôs então ao Governo a cedência de utilização da ala Sul daquele complexo fabril do Exército Português - que teve o seu apogeu durante a Guerra Colonial e que se encontrava desativado há mais de uma década - para enquadrá-lo na sua estratégia de economia e inovação da cidade e transformá-lo num pólo de promoção do empreendedorismo e criatividade, intrinsecamente integrado nas dinâmicas locais e que agregasse o que de melhor ao nível das indústrias digitais, tecnológicas e criativas se faz em Portugal e no mundo.
Após a celebração do Auto de Cedência de Utilização e Aceitação do Prédio entre o Município de Lisboa e o Estado Português, em junho de 2016, a Câmara convidou a incubadora de empresas Startup Lisboa para desenhar o conceito e o modelo e assegurar a coordenação do projeto.
E nasceu assim o projeto Hub Criativo do Beato, a construção de uma nova centralidade na cidade, um conceito de hub para atrair empresas e pessoas “que posicionem Lisboa definitivamente como uma cidade aberta, empreendedora, inovadora e criativa.” (in Apresentação Pública Master Plan - Ver Documentos Oficiais para Consulta).
O conceito definido pela Startup Lisboa, conhecedora e profundamente enraizada no ecossistema empreendedor nacional, pressupõe desde logo uma visão muito concreta para o papel do HCB: potenciar a cidade enquanto hub internacional de empreendedorismo sem esvaziar as dinâmicas já existentes, funcionando como um pólo de atração e retenção de novo talento, novos projetos e novos players, para acrescentar valor à comunidade e ao País.
O HCB está a ser construído para oferecer zonas de trabalho em comunhão com áreas de lazer, serviços diferenciados e programação cultural contínua. Alinhado com as melhores práticas de sustentabilidade ambiental e de preservação da sua herança industrial, e inserido na malha urbana e na comunidade, tem com objetivo último provocar a interação entre diferentes tipos de pessoas e indústrias, criando uma comunidade dinâmica, inovadora e criativa.
No final da sua requalificação, o HCB será um dos maiores hubs de empreendedorismo na Europa com cerca de 50 mil metros quadrados distribuídos por 18 edifícios, estimando-se criar 3 mil novos postos de trabalho, entre as empresas que ocuparão o espaço, a par dos empregos criados com a dinamização comercial que virá dar resposta às necessidades da nova estrutura.
O projeto já captou algumas empresas globais como a Factory, uma das maiores incubadoras europeias (com origem em Berlim); o Super Bock Group, com um espaço de promoção das indústrias criativas e uma cervejeira artesanal - a Browers Beato; a Delta Cafés; e a própria Startup Lisboa. Os projetos destas entidades vêm consustanciar os quatro eixos definidos para o HCB: empreendedorismo, Indústrias Criativas, Inovação e conhecimento, startups, Scale ups e Global Companies.
Modelo de Desenvolvimento
O modelo de desenvolvimento e sustentabilidade económica do HCB, desenhado pela Startup Lisboa, pressupõe que a recuperação dos edifícios é da responsabilidade dos promotores selecionados, tendo como objetivos a redução da necessidade de investimento público, a maior celeridade no desenvolvimento do projeto, e a melhor adequação dos espaços às necessidades dos seus futuros utilizadores.
No modelo adotado, compete aos promotores, designados por parceiros e escolhidos de acordo com a curadoria do conceito e os respetivos eixos de atuação - Empreendedorismo, Indústrias Criativas, Inovação e conhecimento, Startups, Scale ups e Global Companies -, suportar integralmente o encargo financeiro da reabilitação e adaptação dos respetivos edifícios, competindo ao município assegurar a disponibilização de infraestruturas (rede de águas e esgotos, eletricidade, comunicações, etc.), e a reabilitação dos espaços exteriores.
Mantendo-se a propriedade de todo o espaço do HCB na esfera pública, os edifícios são disponibilizados aos parceiros selecionados, através da celebração de contratos de cedência de utilização de longa duração. Foi encontrado um modelo que permite gerar atratividade para os promotores e que passa pelo facto de os mesmos só começarem a pagar pelo uso do espaço quando tiverem recuperado integralmente o investimento elegível realizado, através da atribuição de um período de isenção do pagamento.
A Startup Lisboa, enquanto entidade gestora, é a responsável pela curadoria e programação, bem como por todas as atividades inerentes à gestão do espaço.
No futuro, as despesas com a programação, promoção, gestão e manutenção do hub, serão repartidas pelos parceiros, com base num custo por metro quadrado (condomínio).
O HCB localiza-se no Beato, entre a Av. Infante D. Henrique (a Nascente) e a Rua do Grilo (a Poente), na frente ribeirinha oriental. Está a 10 minutos do Aeroporto de Lisboa, do centro e do Parque das Nações.
de carro:
- Aeroporto- Centro de Lisboa- Parque das Nações
Está em curso a renovação total das infraestruturas urbanas que servem os edifícios existentes e a requalificação dos espaços exteriores. Os 18 edifícios serão reabilitados, reconvertidos para novos usos e em alguns casos ampliados ou substituídos por novos.
PatrimónioReconhecida a sua importância como “legado industrial” (1), este antigo complexo fabril militar foi objeto de duas ações concretas de proteção:
Criação de um Núcleo de Arqueologia Industrial, determinado pelo Acordo de Cedência do Estado à Câmara Municipal de Lisboa, para integrar o essencial do acervo da ex-Manutenção Militar a salvaguardar, particularmente as fábricas de Moagem, Pão e Bolacha.Execução de um Projeto Global em que foram estabelecidas as orientações para intervenção no edificado de modo a garantir a preservação do património e a convivência harmoniosa entre as novas funções e a memória do espaço.
O conjunto industrial, composto por 18 edifícios, é adicionalmente valorizado pela presença de três imóveis de características históricas e arquitetónicas diferenciadoras: o Convento das Grilas / Edifício do Relógio (2) e o Armazém das Grilas, construções pré-existentes datadas dos séc. XVII e XVIII, e a Central Elétrica (2), edifício de carácter industrial, inaugurado em 1922.
(1) in Direção Geral do Património Cultural (2) inscrito na Carta Geral do Património
Timeline
Desde o seu passado agrícola, religioso e militar, passando pela progressiva transformação em periferia industrial a partir do final do Séc. XVIII, até à desindustrialização e declínio demográfico e económico a partir dos anos 70 do Séc. XX, a história do complexo industrial e do território onde hoje nasce o HCB permite identificar a evolução política, social e económica do cidade e do País.
Noutros tempos, os bairros do Beato, Marvila e Madredeus faziam parte de uma zona rural pontuada por conventos e quintas senhoriais viradas ao rio Tejo. A revolução industrial veio substituir esta paisagem silenciosa por fábricas com máquinas a funcionar sem descanso, transformando a vivência dos bairros. A Manutenção Militar, que veio ocupar o Convento das Grilas, é um caso paradigmático dessa profunda alteração, e tendo cumprido a sua missão, prepara-se hoje para as novas e grandes mudanças do século XXI, como Hub Criativo do Beato.
1663 / 1665 A Origem do Convento das Grilas
Na antiga Quinta do Grilo, a Rainha Dona Luisa de Gusmão cumpre o seu desejo de fundar dois conventos da Ordem de Santo Agostinho, vulgarmente conhecidos por Convento dos Grilos e Convento das Grilas. Em 1663, a Rainha deixa a corte e instala-se em Xabregas, de onde “observa” a construção dos conventos. Infelizmente morre em 1666, e não chega a ver a obra terminada. O seu desejo de ser sepultada na igreja do “nosso” convento das Carmelitas Descalças (Grilas) é cumprido em 1713.
Rainha Dona Luísa de Gusmão, retrato de José de Avelar Rebelo (Lisboa, c. 1600 — 1657) In Wikipedia
1734 – 1856 Armazém das Grilas
As freiras Grilas contraem um empréstimo de 3000 cruzados, para obras no convento e construção de um moderno Armazém junto ao rio com cais de embarque. No entanto, em 1856 tiveram de o vender para pagamento das dívidas e juros contraídos pelo empréstimo. Este armazém é um dos edifícios de maior carisma do HCB com as suas arcadas em pedra.
Inauguração da primeira linha de caminho de ferro em Portugal que ligava Lisboa ao Carregado. Esta linha cortou a cerca conventual do Convento das Grilas e posteriormente foi aproveitada para uma linha e gare privativa da MM. Ainda hoje por lá passamos de comboio entre a estação de Santa Apolónia e a estação do Oriente, quem sabe se voltará a ter movimento de apeadeiro?
Com a extinção das ordens religiosas em 1834, fica definido que o convento seria extinto após a morte da última religiosa que aqui professava. A 22 de Março de 1885 morre a última freira Carmelita Descalça do Convento das Grilas e o estado dá início à sua ocupação.
1886 O local perfeito para o complexo industrial
O ministro da Guerra, visconde de S. Januário, escolhe este espaço para implantação do projeto fabril do exército português. O edifício amplo e a zona que compunha a antiga cerca, a proximidade ao rio e à linha de comboio, torna este local perfeito para a instalação da Manutenção Militar, a ser projetada pelo engenheiro militar Capitão Joaquim Renato Batista.
Carta Topográfica Filipe Folque, 1856-58 in Arquivo CML
1897 Fundação da Manutenção Militar
A 11 de Junho de 1897 a Manutenção Militar foi fundada por decreto do Rei D. Carlos com o objectivo de produzir e fornecer alimentação às tropas. Esta nova industria alimentar ficava dependente do Ministério da Guerra e subordinada à Administração Militar. Nesta altura, as máquinas da fábrica de moagem já trabalhavam, em fase experimental, e produziam farinha para o pão, desde agosto do ano anterior.
1911 – 1920 O Crescimento da MM
Figura de grande destaque no desenvolvimento da MM, o Coronel Luís António Vasconcelos Dias coloca em prática o projeto e a grande industrialização do espaço: além das fábricas de moagem, pão, massa e bolacha, desenvolve a industria de conserva, refinaria de açucar, matadouro e salsicharia, moagem de café, tratamento de vinhos e fábrica de comprimidos (compressão de açucar, café, sal e chocolate para transporte em campanha militar).
Em 1912 a MM contrata pela primeira vez mulheres para trabalharem nas fábricas e oficinas, mas rapidamente as suas competências permitem ascender a cargos administrativos na Secretaria, Tesouraria e Contabilidade. Fardadas de vestido negro e avental branco de peitilho têm a categoria de amanuense (administrativa). Dois anos mais tarde, as funcionárias casadas conquistam o direito de dias de licença por maternidade e sem redução no rendimento. Em 1924, abre uma creche dentro da MM para os seus filhos.
Durante a primeira Guerra Mundial, a alimentação era fornecida pelos aliados britânicos com carne, doces e outras rações. A MM tratou do envio de 123 000 kgs de café e 1 600 000 lts de vinho ao Corpo Expedicionário Português em frente de Guerra.
in ensina.rtp.pt
1921 Central Geradora de Electricidade
O fim da era a vapor como força motriz do complexo é marcada pela construção de uma Central a diesel eléctrica de dois grupos, compostos por dois motores de 1000 HP e 500 HP, de maneira a abastecer de energia todas as fábricas da MM de forma autónoma. Este edifício de arquitectura industrial será um espaço público e de lazer garantido.
Colocação do relógio eléctrico no edifício principal. Acontecimento importante que ajuda a marcar o tempo e a jornada de trabalho na fábrica. Foi convento, foi residencial de oficiais do Exército, no futuro terá um movimento de nómadas digitais em coliving. Hoje, é a fachada principal do HCB na Rua do Grilo, e o seu relógio irá continuar a marcar o tempo e o avanço da inovação e da tecnologia.
A Manutenção Militar apoiou os batalhões enviados para as ilhas e colónias em África e Timor, assim como às Manobras de 1943, que concentraram cerca de 60 mil homens na zona centro do país, preparados para a invasão terrestre que estava iminente.
Ilustração Portugueza, nº 982, 6 Março 1942
1945 Primeira Escola Primária
Abertura da primeira Escola Primária para os filhos dos funcionários, no torreão do edifício das oficinas, junto ao portão de entrada da Travessa do Grilo, muito fácil de identificar.
Década de 50 – Renovação Tecnológica, Logística e Social
As Fábricas de Massas, Moagem, Pão e Bolacha são equipadas com máquinas modernas para grande produção. Incremento no apoio social aos trabalhadores com o renovado Serviço de Saúde (assistência médica geral, de especialidade e enfermagem). Inauguração do Bloco Social em 1959, com a Cozinha e Refeitório do Pessoal Civil para 550 pessoas, Infantário e Escola Primária e um Cineteatro com c. 800 lugares.
O grande aumento de homens em campanha e teatro de guerra obriga a MM a trabalhar 24h/dia para fazer face às necessidades. Durante este período, produziram-se cerca de 9 milhões de Rações de Combate distribuídas em esforço de guerra. Abertura de sucursais MM nas colónias portuguesas de Angola, Guiné, Moçambique e Timor.
Desenvolvimento da rede de supermercados e minimercados MM por todo o país, onde são vendidos os produtos produzidos nas fábricas da sede a militares e suas famílias. O supermercado do Beato foi o segundo a ser inaugurado e o último a encerrar, em 1993.
Construção dos Grandes Silos de Cereais com a capacidade total de armazenagem de 10.100 toneladas. Com 40 metros de altura destacam-se na paisagem e identificam o HCB ao longe.
O 25 de Abril e o fim da Guerra Colonial, além do processo de extinção do Serviço Militar Obrigatório (iniciado em 1993), reduziram significativamente os efetivos militares. Assim, a grande capacidade de produção, as toneladas de produtos que diáriamente saíam das fábricas deixam de ter escoamento e quem os consuma. Esta situação resulta na sobredimensão da Manutenção Militar, quer a nível de equipamento quer a nível de pessoal.
1993 – 2002 Novos Objectivos
Foi necessário criar novos objectivos para este empreendimento e o processo de reestruturação orgânica e funcional aproveita a sua capacidade de armazenamento e distribuição, para apoiar as Forças Nacionais Destacadas em Missões de Paz Internacionais na Bósnia, Kosovo e outras, assim como a campanhas de apoio humanitário da Cruz Vermelha e Programas Comunitários de Ajuda Alimentar a Carenciados.
2002 – 2011 Encerramento das Fábricas
A enorme capacidade de produção de todas as fábricas, o custo de manutenção de todo o seu equipamento e questões de gestão económica da administração militar, levaram ao encerramento progressivo das fábricas. Última fábrica a encerrar: Fábrica de Pão.
Decisão de encerramento da Manutenção Militar. A criação da nova entidade MM, Gestão Partilhada – E.P.E., que assumiu as funções de reabastecimento de produtos e fornecimento de alimentação confeccionada às unidades militares da região de Lisboa, foi a última tentativa de renascimento da Manutenção Militar, sem sucesso. Foi extinta em 2016.
2016 Hub Criativo do Beato
Acordo de Cedência entre o Estado Português e a Câmara Municipal de Lisboa da zona sul da MM (zona das fábricas) para recuperar e reabilitar o espaço com novas vivências e um futuro dinamizador. Criação do Hub Criativo do Beato.
Património Industrial
As obras de reabilitação e reconversão terão em conta a feição original dos edifícios e o património histórico, arquitetónico e industrial que encerram. Através de um levantamento exaustivo de quase dois anos feito pela equipa do HCB, todo o património foi identificado e inventariado, e realizados os seguintes levantamentos e análises:
• Recolha de informação histórica, bibliografia e fontes documentais relevantes;
• Recolha de informação histórica, bibliografia e fontes documentais relevantes;
• Registo fotográfico e videográfico;
• Levantamentos arquitetónicos dos edifícios e necessidades de intervenção;
• Inventário do Património Industrial.
No que respeita ao acervo industrial, foram definidos 3 níveis de proteção:
i - Equipamento móvel ou móvel integrado Protegido
ii – Equipamento móvel ou móvel integrado Deslocável
iii – Equipamento móvel ou móvel integrado que poderá Ser ou Não Preservado
No que respeita às intervenções nos edifícios, foi definido um quadro normativo, identificando os elementos a conservar, passíveis de alteração ou de demolição/substituição.
O futuro espaço museológico, sob a gestão da EGEAC, empresa municipal de cultura que coordena a rede municipal de museus, será o ponto de encontro entre o passado e o futuro, integrando, entre outras valências, o Núcleo de Arqueologia Industrial. Será um novo espaço cultural da cidade que colocará em diálogo um edifício emblemático representativo da história industrial do século XX - acomodando ainda os equipamentos industriais que dão conta de todas as etapas da cadeia de produção e as diferentes épocas de desenvolvimento técnico e industrial - e as tendências artísticas e tecnológicas do século XXI.
Gostava de contribuir com fotos e outros materiais para o arquivo histórico da Manutenção Militar?
Tem fotografias, recortes de jornais, livros, fardas ou outros elementos históricos da época da Manutenção Militar?
Se possui algum dado ou material que ilustre a história do espaço onde hoje estámos a construir o HCB e gostava de contribuir para homenagear a memória de todos as pessoas que aqui trabalharam e deram vida a uma das indústrias mais importantes da cidade, fale connosco.